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TGS - O “bom” da pandemia

Foto do escritor: Pedro JunqueiraPedro Junqueira

Buscamos, iludidos ou não, o que seria “bom”. Desde o começo deste ano, aos poucos, talvez mais rápido para uns do que para outros, o sentido, ou a experiência, daquilo que poderia ser considerado “bom” parece vir sendo transformado. Talvez se possa dizer que este sentido venha sendo amadurecido. O que seria percebido como “bom” surge, genuina, mas quase inusitadamente, a partir de ajustes, supostas limitações que nos impomos, aprendendo, como sociedade, através de tentativas e erros, a conviver com o vírus.

Cortadas as possibilidades de aglomeração social e convivência grupal, onipresentes na vida pré-pandemia, o cotidiano de muitos teve que ser remodelado, se tornando mais privativo e digital. Assim, teria que ser neste novo cotidiano que aquilo que agora pudesse se provar “bom” poderia ser descoberto. Mas talvez antes de se chegar lá já se tenha, em meio a este processo de ajuste, descoberto algo diferente. Seria a constatação, sob o olhar do novo cotidiano, que aquilo que se supunha o “bom” antigo só o era por falta de amadurecimento. Mais do que isto. De repente, o “bom” antigo perdeu atratividade e ganhou estranheza de forma mais absoluta. Certas mudanças de preferências não seriam, assim, apenas temporárias.

Registra-se aqui as centenas de milhares de tragédias pessoais e o heróico desempenho dos profissionais de saúde. Isto vem antes e isto é o que mais ensina. Registra-se aqui também o forte impacto de uma economia global e nacional em aguda contração neste período, gerando muito desemprego e fechamentos de negócios. Isto deixará muitas sequelas em grande parte da população de um país ainda relativamente pobre e desigual.

Mas se se pode pensar algo além destes desafios prioritários, cabe uma reflexão sobre alguma transformação pela qual passamos e sua consequente revalidação daquilo que se prefere e se faz. Caiu o consumo, o barulho, a poluição, o fluxo de pessoas. Aumentou a limpeza, a presença da natureza, a reutilização de artigos pessoais, a interação doméstica. Ao mesmo tempo, o uso de tecnologia se proliferou, potencializando seu desenvolvimento e alcance na sociedade. Apesar dos pesares, e tem sido muitos os pesares, voluntários e involuntários, este quadro se assemelha muito mais, sob diversos aspectos, daquilo que religiosos, fílósofos e cientistas, de todas as eras, preconizaram e preconizam como uma vida “boa”. O verdadeiro e sustentável estado de bem-estar, o qual passa pela sábia frugalidade, pela solidariedade e pela sustentabilidade. Seria bom que o capitalismo aprendesse um pouco esta lição, para tentar evoluir. Não é contradição. Isto é, em última análise, The Good Stuff.

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